Good Cop, Bad Cop e o iFood

As discussão sobre a regulamentação de motoristas e entregadores de aplicativos pegou essa semana. Aproveitei o tema para contar um pouco como tem sido a estratégia de negociação de Lula. Bem ou mal, ele tem conseguido alguns avanços dessa forma. A ver se o modelo não está se esgotando.

Good Cop, Bad Cop e o iFood

👮‍♀️ Tem se tornado cada vez mais claro o uso da estratégia “Good Cop, Bad Cop” por Lula em praticamente todas as negociações empreendidas pelo Executivo. Foram diversos momentos que o presidente escalou ministros para fazer o personagem de Bad Cop, enquanto ele continua imaculado no Palácio do Planalto.

🛡️ Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, é o ponta de lança dessa estratégia. Dialoga duramente com a Câmara e o Senado, despertando a ira de Arthur Lira, que diversas vezes pediu sua cabeça. Lula manteve Padilha em todas as situações. A deputada Gleisi Hoffmann, que em muitos momentos atacou a política econômica de Fernando Haddad, serve ao mesmo propósito. Políticos e banqueiros defendem Haddad com unhas e dentes por temerem a possibilidade de Aloizio Mercadante no Ministério da Fazenda.

🛵 Agora é o iFood que sofre com esse estilo de negociação. Enquanto o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, faz um jogo duríssimo na negociação para regulamentar a profissão e a contratação de motofretistas (sim, é esse o nome), Lula se mostra arrazoado, compreensível e conciliador. Não se engane. Marinho, Gleisi e Padilha são apenas peças no tabuleiro e fazem exatamente o que Lula espera deles.

💸 Na dinâmica de Padilha, o objetivo é diminuir o nível de reatividade da Câmara à política governamental. Com Gleisi, proteger Haddad e garantir que a pauta arrecadatória avance no Congresso. No Ministério do Trabalho o jogo é o resgate dos movimentos sindicais. Mais do que arrecadar taxas previdenciárias, o que agradaria a todo o governo, Lula quer mesmo a migração de uma massa de motofretistas e motoristas de aplicativos para dentro dos sindicatos amigos. E ele vai conseguir.

Notas

1. Berith

Os grupos Cyrela e J. Safra estão constituindo uma parceria para a construção de empreendimentos no Rio e em São Paulo. O Safra entra com a grana, a Cyrela com a expertise.

2. Restam dois

Um grupo sucroalcooleiro deve anunciar em breve a compra de um jornal de São Paulo. Assim, restará apenas duas famílias de mídia: os Frias, da Folha, e os Marinho, da Globo.

3. Boi na linha

Há suspeitas de manipulação na negociação das ações do GPA, às vésperas do follow on que promete levantar até R$1 bilhão. O volume alugado das ações bateu recorde nesta semana.

4. Cui bono

Nem Lula quer Bolsonaro preso. Caso o STF invente um mandado de prisão — o que não deve acontecer —, Lula perderia o fantasma do golpe que garante o alinhamento dos ministros.

Gustavo Machado da Costa

Machado da Costa é jornalista e consultor de comunicação. Atuou mais de 15 anos na reportagem e edição dos principais veículos de imprensa do país, sempre explorando a interdependência da economia e da política no Brasil.