Machado da Costa - 09/02/2024

Bem-vindos à primeira edição de 2024 da minha newsletter. Este ano promete ser repleto de desafios e oportunidades, e estou aqui para mantê-los informados sobre cada desenvolvimento importante.

Boa leitura!

O jogo de R$ 170 bilhões da Vale

💸 Eduardo Bartolomeo, Guido Mantega, Luiz Guimarães, Guilherme Penin. Muitos nomes surgiram durante este processo de escolha do próximo presidente-executivo, ou CEO, da Vale. Mas pouco se fala sobre o que está realmente em jogo neste processo: uma disputa entre empresa e União de R$ 170 bilhões. Quem comandará a empresa nos próximos será o responsável por gerir a estratégia que poderá mitigar este impacto, que consumiria até seis trimestres de lucro da mineradora.

⛏️ Correm quatro processos concomitantemente que interessam a diferentes esferas da União, em especial, ao Palácio do Planalto. 

O primeiro é a revisão da indenização pela tragédia de Mariana, em 2016. Somente neste caso, a Samarco, investida da Vale, pode sofrer uma perda de R$ 120 bilhões. Recentemente, uma derrota na Justiça deixou investidores em alerta sobre o tamanho do impacto que este processo pode gerar sobre as contas da companhia. A derrota, de R$ 47 bilhões, não é nem a metade da meta do governo. 

🚂 Há ainda a negociação para a renovação da estrada de ferro Minas-Vitória. A pedida inicial do Governo Federal é de R$20 bilhões. Há também a discussão tributária em torno da Compensação Financeira pela Exploração Mineral, na qual a União exige mais R$ 20 bilhões da Vale. Por fim, há discórdia sobre o acesso da Vale a projetos e recursos das Superintendências de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene), cujos valores em jogo orbitam a cifra de R$ 10 bilhões. 

👔 Como parte deste processo, Lula colocou um bode na sala chamado Guido Mantega – ex-ministro da Fazenda e de quem o mercado sente nenhuma saudade. Lula tirou Mantega, ou o bode, da sala. Em contrapartida, deverá ganhar uma cadeira no Conselho, passando de duas para três: a de Daniel Stieler (a ser trocado), a de João Luiz Fukunaga (a ser reconduzido), e a do diretor-presidente, que será indicado pela União. 

Notas

1. Quem liga?

Nem o Ministério da Agricultura (Mapa), nem o de Comércio (Mdic) estão ligando para o tamanho da quebra das safras de soja e de milho – a safrinha – este ano. A Aprosoja estima uma produção de 135 milhões de toneladas do principal produto agrícola exportado pelo Brasil. No ano passado, foram 154,6 milhões de toneladas. Por lá, a preocupação é com o tamanho do Plano Safra de 2024, que deve crescer em relação ao de 2023.

2. Eles ligam!

Se o governo não se preocupa, quem trabalha com o transporte da safra está alarmado. Alguns núcleos de caminhoneiros pouco alinhados ao atual governo já arregaçam as mangas para pressionar o Planalto. Com a quebra de safra, diminui o volume de fretes e, com o preço do diesel ainda lá nas alturas por conta de toda a recomposição tributária do combustível no ano passado, as margens destes trabalhadores ficarão bem mais apertadas. 

3. Pode ser no PIX

O PIX está revolucionando o varejo, impactando em especial o Magazine Luiza. Nas últimas três grandes datas de vendas da varejista – Black Friday, Natal e Liquidação Fantástica –, as transações em PIX alcançaram 43% do total comercializado pela Magalu. Uma gigante de tecnologia de pagamentos aponta que o índice deve subir para 50% no fim do ano. Isso deve aliviar a despesa financeira, por conta do crescimento das compras à vista.

4. Dança da chuva

Pode chamar o Cacique Cobra Coral. Afinal, nas duas últimas crises hídricas, Geraldo Alckmin, em São Paulo (2014), e Jair Bolsonaro, em Brasília (2021), recorreram ao espírito do indígena para fazer chover. É certo que a pluviometria atual de cerca de 50% da média histórica causará estresse no setor elétrico. Por outro lado, isso vai agilizar o fim das disputas nas contratações de térmicas em 2021. J&F e BTG estão neste chove-não-molha.

Gustavo Machado da Costa

Machado da Costa é jornalista e consultor de comunicação. Atuou mais de 15 anos na reportagem e edição dos principais veículos de imprensa do país, sempre explorando a interdependência da economia e da política no Brasil.