Xadrez de Maceió balança a Braskem

Na segunda edição de 2024 da minha newsletter, trago informações sobre Braskem, Vale e a mais nova inovação do setor elétrico. O cenário não está nada bom para setores dependentes do governo.

Boa leitura!

Xadrez de Maceió balança a Braskem

💃 No panorama político brasileiro, a ascensão das primeiras-damas vem chamando atenção, desde Marcela Temer e Michele Bolsonaro até Janja da Silva. Entre elas, Marina Candia Figueiredo, primeira-dama de Maceió, se destaca por seu protagonismo, independência e forte presença regional. Sua influência ultrapassa as fronteiras políticas de Maceió, tornando-a uma figura de poder tal que sua identificação como esposa de João Henrique Caldas (JHC), o prefeito de Maceió pelo PL e candidato à reeleição, fica em segundo plano.

♟️ É notável como JHC, peça-chave no principal confronto político em Brasília, parece ofuscado pela presença de sua esposa. No cenário local, Artur Lira (PP), presidente da Câmara e aliado de JHC, e Renan Calheiros (MDB), ex-presidente do Senado e aspirante à presidência da CPI da Braskem no Senado, estão em disputa direta. A compensação de R$1,7 bilhões recebida devido ao desastre ambiental causado pela Braskem em Maceió elevou o orçamento da prefeitura de R$4,1 bilhões para R$5,3 bilhões neste ano eleitoral, beneficiando JHC com recursos para obras e compras públicas que podem favorecer sua reeleição.

🏛️ Renan busca a todo custo impedir essa vantagem, temendo nova derrota na prefeitura da capital e a perda do controle estadual, atualmente governado por Paulo Dantas (MDB), para o grupo de Lira, em 2026. Uma vitória de JHC reforçaria a influência de Lira na região, estabelecendo uma nova dinastia política.

💸 No meio desse cenário está a Braskem, prometida ao grupo J&F dos irmãos Batista desde fevereiro de 2023, apesar de interesses fugazes de investidores estrangeiros. Com a volta dos trabalhos do Senado após o Carnaval, a Braskem voltará a ser discutida nos corredores em Brasília, o que poderá impactar sobremaneira suas finanças e sua imagem. O desafio de resolver essa questão passa mais pela influência política do que pelo poder financeiro. Talvez fosse Marina, a primeira-dama, mais eficaz em negociações no Palácio do Planalto do que o próprio prefeito, que teve uma visita discreta ao gabinete de Lula no final do último ano.

Notas

1. Já era

Eduardo Bartolomeo, presidente-executivo da Vale, dificilmente continuará à frente da companhia. Ter o respaldo de apenas metade do Conselho inviabiliza qualquer continuidade. Mesmo que consiga se equilibrar no fio da navalha, a renovação do colegiado após a divulgação do balanço de 2023 deve marcar o fim de sua era na mineradora.

2. Ida ao mercado

O Grupo Pátria continua colocando supermercados em seu carrinho. Agora comprou 85% da Paraná Supermercados, por meio da Plurix, investida do FIP Pátria VI. Dentro do cesto, já estavam as redes Irmãos Boa e Supermercados Avenida. E não deve parar por aí. A verticalização do setor de alimentos é uma das grandes apostas do fundo.

3. Já vi esse filme

Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, que teve de demitir seu número dois por conflitos de “agenda interna”, deflagrou a MP579 parte 2. Quem viveu 2012 no setor elétrico não se esquece jamais dessa sigla. A ideia de “jênio” dessa vez é antecipar a renovação das concessões das distribuidoras. Se avançar, será trágico.

4. E não deu certo

Em troca da renovação , as distribuidoras elevariam seus índices de qualidade, medidas pela frequência e duração das interrupções. A inovação da vez é a obrigatoriedade da renovação sob pena de rescisão, para evitar a crise de 2012 – nada mais inconstitucional. A perspectiva de alta dos preços de energia só piora o cenário.

Gustavo Machado da Costa

Machado da Costa é jornalista e consultor de comunicação. Atuou mais de 15 anos na reportagem e edição dos principais veículos de imprensa do país, sempre explorando a interdependência da economia e da política no Brasil.